ELOGIO DA INDAGAÇÃO
Tudo é desencontro ou ilusão.
Se do indício claro desconfias
E se recuas à voz que não ouviste
É certo que fundas sabedorias
Já de tonta surdez te acusarão
E acabarás por ver o que não viste.
Tarde demais, porém. Desilusão.
Se ao contrário, te adentras na floresta
E ao chamado da Terra toda vais
Na clareira do tempo a grande festa
Está calada, oscura, e nada mais.
Daí que o limbo seja teu signo a fogo
Impresso em tua fronte como lua
Não podes crer nas ilusões do jogo:
Escolha ou não escolha não é tua.
Votada estás ao só suplício atroz
Invejas mil e sem razão suscitas
Não creriam s’essas penas aflitas
Confiasses a outrem, ‘nda a sós.
Não sei se rasgarás este teu fado
Não sei se sortilégio se desfaz
Não sei se algum dia um anjo alado
Virá resgatar-te as horas más.
Sei só que entr’essa gente ignara
Que contigo se cruza pelas ruas
Resplandece clarão em tua cara.
Infeliz, sim, mas querida pelas Musas.
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